COLEAR
Adormece inocência!
Que sonhos te possuirão
Agora?
Nessa hora a negrejar
Está o céu.
Minhas mãos ao léu,
Ensaiando um toque.
Arrancarei esse véu,
Que me faz senhora,
Expandir-me-ei em
Flora. Repousarei
Contigo, embora
Minha boca já
Esteja colada na
Porta do perigo.
Se despertas extingue-se
A mágica, em serpente
Estarei transformada.
Hipnotizarei teus olhos,
Perdido ficará em minha
Cauda.
Meu doce veneno, visgo,
Impregnará teu corpo,
E louco,
Gritarás:
Possua-me ou mata-me,
Não quero acordar
Dessa quimera!
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MULHER VITORIOSA!
Tu me visitavas nas madrugadas frias
Com desvelo a aquecer minhas carências
Desfazia meus cabelos sem apelos
Cobria-me com a túnica do desejo em zelos
No raiar do dia, satisfeito tu ias.
A deslumbrar o mundo inteiro
E com teu cheiro eu morria
Para renascer com o luzeiro.
Assim o céu escreve nossa estória
Por nuvens brancas e cor de rosa
Pintura que se vê, íntima glória.
Sou aquela dama misteriosa,
Fria que não gosta muito de prosa
Quando tu vens torná-la vitoriosa!
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Metáforas
Outro entardecer matizado, lilás
Algumas boninas e bem me queres
Sobre meu vestido que na pele adere
Baudelaire entenderia, tudo é sagaz
A roupa colada ao corpo, molhada
Banhei-me feliz em águas salgadas
Nadei veloz como uma sereia e cantei
Hipnotizei o sol, à noite adiantei
Saciei-me. Que avance a madrugada!
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TRANSE
Culminando em transe após longos beijos
Mulher plena no ápice da consumação
Doce afago aumenta o meu desejo
Minha alma eleva-se em rebentação
Vou aos céus para trazer-te estrelas
Azul de magnitude ímpar que revela
Luzes espectrais, êxtase dos deuses.
Nossos corpos que se tocam mil vezes
Boca, braços e pernas, resvalando-se.
A noite se extinguindo de mansinho
Gotículas de orvalho espalhando-se
Desponta o sol quieto, sem murmurinhos.
Para que não despertemos em novo idílio
A mirar-nos enrubesce, vai ao delírio!
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F E L I N O
Porque nasceste assim tão romântico
Instigas esta solitária orquídea negra
Que julgava ter um coração de pedra
Confesso-te meu rei, amei-te de súbito
Tu não és santo, desça deste púlpito
Apaixonei-me, desta vez fugi à regra
Meu peito dói demais e até sangra
Porque tens este corpo tão lúbrico?
Transmutei-me, meu tom está solferino
Estou indefesa, excita-me tua presença
Presa fácil em tuas garras de felino
Perdi a compostura e minha crença
Pois teus olhos profundos e cristalinos
Tiram o fôlego de qualquer ser feminino!
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QUE VÊS?
Gosto de andar nua, sou devassa
Você me olha, descalça de pudor
Sente tremores, perde-se na graça
Minhas coxas causam-lhe torpor
Tenho síndrome de Eva, a verve
Hás de morder a maçã até caroço
Fruto proibido para nada serve
Vou passar as pernas no teu pescoço
Serpente hipnotizando teus olhinhos
De menino inocente, tão bonzinho
Carente á espera de meus carinhos
Mas por favor, aposenta a timidez
Homem sorria, chegou a tua vez
Abri as portas do mundo, o que vês?
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DESEJOS
Rosa entreaberta, intocada.
O orvalho acaricia tuas pétalas,
Escondendo o segredo mais
Íntimo, tua corola.
Tenho inveja!
Quisera desvirginar este
Labirinto,
Ter-te a boca por princípio,
Escalar teus montes
Até exaustar-me feliz
Ao precipício.
Bela Ninfa!
Quisera sussurrar aos
Teus ouvidos, uma
Canção de amor,
Falar-te da minha paixão.
Pobre de mim!
Nasci um zangão, vive tão
Pouco este coração.
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FELINA
Desfaz minhas tranças, solta meus
Cabelos, estou sedenta,
Arranca-me a vestimenta,
deixa somente a calcinha de renda.
Faz-me frágil, fascinada.
Voraz momento.
Entregando-me a ansiedade dilatada...
Puxo tua gravata,
A lingerie não atrapalha...
Saliva quente,
Aquecendo minhas entranhas,
Entrelaça as pernas nas minhas,
Faça-me delirar e no ápice tresloucado,
Gritar.
Êxtase total!
E é tudo tão normal.
Mulher recatada, comportada,
Eis a minha fama.
Na cama sou santa, se assim desejar,
Mas na realidade sou felina,
Minha sina é acasalar, pois fêmea
Que se preza tem um macho que
Faz-lhe aquietar.
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